Usinas do Centro-Sul esperam melhorar resultados nesta safra 2023/24
O processamento da cana-de-açúcar da safra 2023/24 do Centro-Sul do Brasil nem bem começou e as usinas apostam suas fichas em moagem e consequente produção de açúcar superiores à temporada passada
Representantes de algumas indústrias do setor ouvidos pela reportagem são unânimes em dizer que a produtividade do ciclo vai bater a de 2022/23, que já mostrou recuperação ante a temporada anterior, prejudicada pelo clima adverso. A estimativa se alinha com o que prevê o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq-USP, que aponta que o Centro-Sul pode processar de 3% a 9,4% a mais (de 560 milhões a 595 milhões de toneladas de cana), em comparação com 543,89 milhões de toneladas na safra 2022/23, segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) até a primeira quinzena de março.
O incremento da produtividade do Centro-Sul está atrelado a investimentos em tecnologia, como maquinário e variedades mais produtivas e resistentes, o que deve permitir à região produzir mais por hectare neste ciclo. A Usina Jacarezinho, localizada no município de mesmo nome no Paraná, trabalha para superar o recorde de 90 toneladas de cana colhidas por hectare (TCH), alcançado em 2022/23. Eduardo Lambiasi, diretor Corporativo do Grupo Maringá, dono da unidade, revela que a safra passada surpreendeu pelo desempenho, mesmo diante das chuvas intensas. A usina processou 2,56 milhões de toneladas de cana e ainda investiu R$ 12 milhões para construir uma planta de levedura e incorporar o produto ao portfólio.
Para este ano, no entanto, as indústrias monitoram a possibilidade de ocorrência do fenômeno El Niño no segundo semestre, o que alteraria o regime de chuvas justamente no pico da temporada açucareira, entre julho e setembro. Caracterizado pelo aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico, o El Niño provoca mais precipitações em áreas produtoras do Centro-Sul brasileiro e pode prolongar o período de safra e reduzir o nível de sacarose da cana. “O El Niño é um ponto de atenção por influenciar no período de safra e, dependendo das condições climáticas e do maior índice pluviométrico possível para o ano, a safra 2023/24 pode se estender para além do período planejado”, disse o gerente Administrativo, Silvio Luis Nicoletti, da Usina São Manoel, no município paulista de mesmo nome.
Na safra 2022/23, a São Manoel moeu 2% menos do que esperava e processou 3,36 milhões de toneladas. A falta de chuvas, principalmente na primeira metade do ano de 2022, foi o principal responsável pela redução. Mas, mesmo com a perda, a produção açucareira ficou em linha com a expectativa, já que houve maior concentração de açúcares na matéria-prima, aumento anual da produção agrícola e do rendimento agrícola no ciclo. Para este ano, a usina prevê alcançar um processamento maior de cana e um aumento na produção de açúcar em comparação com o ano anterior.
Embora o El Niño seja um ponto de alerta, a intensidade com que o fenômeno chegará ao País ainda é incerta e as indústrias ressaltam que pelo menos a combinação de seca e geada, que prejudicou a produtividade da safra 2021/22, parece ter sido superada. O gerente de Sustentabilidade e Meio Ambiente da Usina São Luiz, de Ourinhos (SP), Manoel Benedito Ribeiro de Andrade, diz não há tendência de um inverno rigoroso neste ano, com ocorrência de congelamento do orvalho, o que é visto como um bom sinal para a usina, que processou 2,6 milhões de toneladas no último ciclo.
Além do clima, também continua no radar das usinas as possíveis alterações na política de preços da Petrobras. Após um ano de redução da competitividade do etanol em virtude da isenção de impostos federais sobre a gasolina, o setor sucroenergético teme que mudanças no preço de paridade de importação (PPI) de combustíveis fósseis possam fazer o biocombustível se desvalorizar novamente. “Nossa principal preocupação é quanto às inferências governamentais na política de combustíveis ou uma eventual mudança na política da Petrobras”, resume Helton Carlos de Oliveira, diretor Industrial Corporativo da Usina Santa Adélia, com unidades em Jaboticabal e Pereira Barreto, ambas no interior de São Paulo.
As indústrias do setor optam por produzir o etanol ou o açúcar a partir de cana-de-açúcar e a escolha, em geral, costuma se basear em qual produto oferece o melhor retorno financeiro. Uma vez fixado o mix da safra, ajustes para um lado ou outro da equação costumam ser apenas pontuais e as empresas tendem a lidar com a venda dos produtos a preços mais baixos do que o previsto.
Apesar do receio das companhias do segmento com o diferencial do biocombustível, o gerente de Sustentabilidade e Meio Ambiente da Usina São Luiz diz que a empresa acompanha atentamente os posicionamentos do governo mas, por enquanto, nenhuma posição mexeu, de fato, com as perspectivas para a safra. “A tendência é ocorrer conforme planejamento”, concluiu. Fonte: Broadcast Agro
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