Alta de preços de etanol e energia ‘Turbina’ os resultados das usinas
Os preços dos produtos permitiram que as empresas contornassem, por ora, os efeitos da quebra histórica de safra que tem prejudicado os volumes de produção e de vendas, além de pressionar os custos
As escaladas dos preços de venda de etanol e energia elétrica e, em menor grau, também do açúcar, garantiram às usinas sucroalcooleiras resultados muito melhores no segundo trimestre desta temporada 2021/22 (julho a setembro) do que no mesmo período do ciclo passado. Os preços dos produtos permitiram que as empresas contornassem, por ora, os efeitos da quebra histórica de safra que tem prejudicado os volumes de produção e de vendas, além de pressionar os custos.
O biocombustível foi o principal elemento positivo nos balanços das companhias sucroalcooleiras de capital aberto, já que seu preço acompanhou a disparada da gasolina no período, provocada pelo repasse da Petrobras ao mercado interno da alta dos preços internacionais e da depreciação cambial. Além disso, a quebra na safra fez as usinas reduzirem a oferta do etanol hidratado e concentrarem suas vendas no anidro (misturado à gasolina), que paga mais e cujo consumo está mais forte pela maior competitividade do combustível fóssil nas bombas.
A variação dos preços do etanol também foi particularmente elevada porque a base de comparação – segundo trimestre da safra passada – foi golpeada pela pandemia. Mas os preços do segundo trimestre também superaram os do trimestre anterior e até mesmo os da última entressafra, período em que a menor oferta costuma oferecer suporte.
Líder no segmento, a Raízen vendeu etanol no trimestre (próprio e de terceiros) por um valor médio de R$ 3.664 o metro cúbico, uma valorização de 63% na comparação com o mesmo período da safra passada e 29% acima do preço médio das vendas do quarto trimestre da última safra. A companhia não detalha as vendas por tipo de etanol nem por destino das vendas, mas vem indicando ao mercado que está ampliando a comercialização de etanol para uso industrial e que está obtendo prêmios de 70% nas operações de etanol celulósico.
Na São Martinho, o preço médio de venda do etanol subiu 68% na comparação anual, para R$ 3.284,5 o metro cúbico, enquanto o preço médio do produto da Adecoagro aumentou 93%, para o equivalente a US$ 627 o metro cúbico – a companhia divulga seus números em dólar, porque tem capital aberto na bolsa de Nova York. Para ambas, os preços também superaram os da última entressafra em mais de 40%. Para a Jalles Machado, o preço médio no segundo trimestre ficou em R$ 3,73 o litro, enquanto em toda a safra passada não passou de R$ 3.
Para as empresas que têm poucos contratos de energia vendidos em leilões e, portanto, maior exposição ao mercado livre, os preços da eletricidade cogerada do bagaço também foram uma surpresa positiva, já que a crise hídrica vêm alavancando os preços. Na Adecoagro, o preço médio de venda da energia no trimestre, convertido em dólar, subiu 64%, e foi acompanhado por um aumento na geração a partir do bagaço comprado de terceiros, da palha e até de madeira adquirida para aproveitar a onda favorável.
A São Martinho também registrou alta expressiva do preço médio de venda de energia – 48% no trimestre, para R$ 307 o megawatt-hora (MWh). Na Raízen, o avanço foi de 17%, a R$ 272/MWh, incluindo a venda de energia de terceiros.
Já os preços do açúcar vendido no segundo trimestre apresentaram uma contradição: embora os valores tenham subido, não conseguiram refletir as oportunidades proporcionadas pelo salto recente na bolsa de Nova York e pela depreciação cambial, e em alguns casos não compensaram a inflação de custos.
Na Raízen, o preço médio do açúcar vendido subiu 43%, para R$ 1.959 a tonelada, valor que a companhia atribui ao contexto do mercado e à “maior participação da Raízen na cadeia de valor” da commodity. Mesmo assim, o Ebitda ajustado próforma do negócio de açúcar da empresa caiu 21%, dada a quebra de safra e a decisão de carregar estoques para a entressafra. Em teleconferência com analistas, o CEO Ricardo Mussa disse que a companhia iria ampliar o volume de vendas nesta entressafra.
Na São Martinho, o preço médio das vendas de açúcar do trimestre subiu 43%, a R$ 1.689,70 a tonelada. No entanto, nos primeiros seis meses do exercício a margem com a commodity caiu 1,7 ponto, a 37,6%. Em teleconferência, Felipe Vicchiato, diretor financeiro da companhia, disse que o maior impacto foi do efeito do Consecana – que varia de acordo com os preços de açúcar e etanol – no custo da cana dos fornecedores e no custo dos arrendamentos de terras.
A companhia não segurou um volume maior de açúcar nem de etanol para a entressafra.
Já na Adecoagro, a alta do preço médio de venda garantiu margem maior, mesmo com alta de custos, assim como na Jalles Machado, que se aproveita do prêmio do açúcar branco e do orgânico sobre o VHP.
O custo ainda pode aumentar mais, já que a alta do açúcar e do etanol também elevam os custos atrelados ao Consecana, e os custos com insumos agrícolas e industriais também seguem elevados.
Estimativa da consultoria FG/A com base em uma amostra de 30 empresas indica que o custo real, já descontada a inflação, pode subir ao menos 17% nesta safra, para R$ 210,93 por tonelada de cana processada, considerando um valor médio em três anos. Para as empresas mais afetadas pela quebra de safra, o custo unitário tende a ser mais elevado. Fonte: Grupo Idea
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